GRADES

O projecto "30 e tal no Campo da Morte Lenta" desenhou, a convite do "Abriaspas" (uma organização Bianda e Fundação Amilcar Cabral), um programa de conversas, explorações e intervenções artísticas subordinado ao tema da Prisão do Tarrafal, a sua memória e o modo como esta é recebida e tratada actualmente, em que o sub-tema transversal era "O lugar do prisioneiro ideológico, e da prisão, na relação com a criação artística".
O programa foi o seguinte:


5/10 – 18h30
Instalação-jam/ site specific sob o tema genérico “O Campo Tarrafal”, com artistas visuais/plásticos, músicos e todos que queiram participar.
12/10 – 18h30
Video (de curta-duração) inicial seguido de conversa temática: o lugar do prisioneiro ideológico, e da prisão, na relação com a criação artistica.
19/10 – 18h30
Acção performativa sob o tema genérico “o Campo do Chão Bom”.
26/10 – 18h30
Video (de curta-duração) inicial seguido de conversa temática: o tarrafal e o seu impacto actualmente, na relação com outros campos (ontem e hoje)



Material das sessões:

5 outubro, 18.30
instalação/ site specific sob o tema genérico “O Campo Tarrafal” 
A sessão contou com uma instalação, a partir de elementos plásticos de Soizic Larcher-Nouviale (que estendeu a sua intervenção a uma acção performativa), dos sons captados no campo do Tarrafal por César Schofield Cardoso e pelas imagens vídeo de João Paradela, também sobre a prisão. Simultaneamente a uma conversa relativa a este universo, todos os elementos eram experimentados, individual ou colectivamente, de forma a servirem de base para a 2ª acção performativa no dia 19.

© César Schafield Cardoso


12 outubro, 18.30
video (de curta-duração) inicial seguido de conversa temática: o lugar do prisioneiro ideológico, e da prisão, na relação com a criação artistica. 
Foi uma conversa que deambulou pelas várias possibilidades de abordagem à criação artística, deste tema. Entre as discussões tidas, destaca-se uma, a da problemática levantada por um dos presentes: ao tratar um tema tão sensível como é o de um campo de concentração (de um ponto de vista criativo), estando ainda a memória recente de Cabo Verde muito fresca (havendo a possibilidade de ainda existirem resquícios traumáticos de visões algo retrógradas típicas do século passado - e anterior - como são as relações "colonizador - indigena" e "preto - branco"), não se poderá ela própria tornar um problema impeditivo da criação?
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19 outubro, 18.30
acção performativa sob o tema genérico “o Campo do Chão Bom”.



26 outubro, 18.30
video (de curta-duração) inicial seguido de conversa temática: o tarrafal e o seu impacto actualmente, na relação com outros campos (ontem e hoje)
Agora que chega ao final este trajecto dentro de outro maior, há que agradecer o continuado acompanhamento e a apaixonada participação do Dr. Carlos Reis, bem como à Fundação Amílcar Cabral (e todos os seus colaboradores) no apoio a esta iniciativa, que terá certamente a sua devida continuação, encaixando em si aqueles que poderão efectivamente engrandecer o projecto e a memória do Campo, do espaço lusófono e da abertura de espírito (politico, filosófico, activo, humano). Ao contrário dessa triste memória dos que foram perseguidos por "pensar", importa hoje dar as mãos àqueles que pensam para agir. Que usam o pensamento para melhorar a acção, e não se ficam pelo oco pensamento (amigo de infância do controle ditatorial), que não leva a lado algum, excepto à apatia e à inércia. Nesta época inundada de lixo comunicacional, importa ser objectivo e selectivo. Tal como Saramago relembrou, recentemente, referindo-se à problemática dos fascismos disfarçados, nos dias que correm, interessa, sim, desmistificar os telhados de vidro e os lobos vestidos de cordeiro. E como é o lugar do prisioneiro ideológico que interessa a este projecto - e além de nos ficarmos pela (urgente) necessidade da preservação da sua memória - podemos ir um pouco mais além, acusando as faltas de liberdade que nos são sorrateiramente arremessadas por opressivas e moldáveis ditaduras do ego e da sede de poder.
Como remate, aqui ficam alguns pontos de partida para as reflexões (ob)tidas neste percurso.
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